sábado, 15 de maio de 2010

Sem dono


Fabrício Carpinejar

(...)
Nossa coerência

é estar mudando.
A chama desmaiou
e a levamos nos braços.

Tivemos a coragem
de superar o começo,
não transformar a filiação

em mapa de guerra,
imitação da treva.
O percurso tem sentido

quando percorrido.
Do resumo das veredas,
reverdece o sumo

de ter colhido
o sabor da vertente.
Nossa amizade

é mais um gole da gaita,
um golpe no tambor.
Nossa amizade

é estar névoas adiante
do que somos.
Só é mortal

o que não vimos.
Despeço-me do passado
como um cavalo sem dono.

Não devo conselhos,
não devo a franqueza
das pausas,

a serenidade dos escolhos,
não devo a força
de minha fraqueza.

Mergulho os calcanhares
a empurrar
a barca do ventre

e circundas o vazio,
os ciclos do som,
conciliado com a verdade,

pai maduro de minha escolha,
navegando
a paternidade das águas.

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